Uma das histórias contadas
pelo Senhor Jesus que todos conhecemos muito bem é a “parábola do joio” (Mt 13.24-30). Descobrimos nessa parábola que não é tarefa fácil separar o crente
verdadeiro do falso. São tão parecidos que há o risco de alguém tentar
separá-los e se enganar, de modo que apenas no tempo de Deus, mediante a
apresentação dos frutos, é que o julgamento acontecerá.
A grande questão está no
fato de que as características do crente verdadeiro não são externas, mas trata-se de uma atitude de coração, de uma mudança de mente, da maneira como se
relaciona com o Senhor Jesus. O verdadeiro crente procura ser semelhante a
Jesus.
I.
Crentes sabem quem é Jesus (1Jo 2.1)
O conhecimento de Jesus tem
múltiplas faces e implicações. Ele é muito mais do que aquilo que se pode
revelar em apenas um verso da Bíblia. Da mesma forma como uma dona de casa tem
muitas vasilhas e muitos temperos e, no momento de preparar um prato delicioso,
não usa todas as vasilhas nem todos os temperos, mas apenas aqueles de que
precisa para produzir o sabor que deseja, assim também o crente conhece Jesus
e é abençoado pela qualidade necessária a cada momento de sua vida. Ele é o
“socorro bem presente” (Sl 46) na hora da angústia, a força na fraqueza, a
companhia na solidão, a paz em tempo de guerra. Ele é o Advogado junto ao Pai
no momento do nosso pecado.
Enquanto fomos separados de
Deus por causa de nossos pecados, Ele é aquele que está junto ao Pai. Enquanto
somos injustos, Ele é “o justo”. Não apenas justo, mas Ele é também justo “para nos perdoar” (1Jo 1.9), é aquele que justifica, pois “nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Ainda que nos reconheçamos
pecadores, somos exortados a que não pequemos. Isso significa que, mesmo sendo
pecador, o crente não vive na prática deliberada do pecado, porque o seu desejo
é viver na luz e agradar Aquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa
luz. Ainda assim, quem “pensa estar em pé veja que não caia” (1Co 10.12).
Continuamos com a possibilidade de pecar.
A pessoa que não chegou ao conhecimento da verdade não tem solução para o problema do pecado. Ela ignora
que está pecando ou continua no pecado, fazendo do ato pecaminoso uma prática
natural de vida, ou luta contra o pecado com armas inúteis – recursos inadequados como boas obras, rezas, esforço pessoal ou qualquer outro. O
crente sabe que Jesus é o Advogado – aquele que é “chamado para o lado”, nosso
intercessor junto a Deus (Jô 14.16,25; 15.6; 16.7). Como lembra o Dr. Shedd,
“a intercessão de Cristo é a aplicação contínua de Sua morte para nossa
salvação”. O crente sabe quem é Jesus!
I. Crentes confiam naquilo
que Cristo fez (1Jo 2.2)
O justo, Jesus Cristo, é
também a propiciação pelos nossos pecados. Foi o sangue de Jesus, vertido pelos
nossos pecados, que tornou possível a propiciação.
1. Suficiente para o meu
pecado
O termo propiciação é
bastante ligado à ideia de propiciar, ou tornar possível. No caso bíblico,
propiciatório é o lugar onde os pecados eram expiados ou removidos. Em Romanos
3.25, somos informados que “Deus propôs, no seu sangue (de Jesus), como
propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua
tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. Deve-se
observar novamente a íntima ligação entre a justiça (Jesus é o justo – 1Jo
2.2) e a propiciação. Através da morte de Cristo, Deus remove os pecados do Seu
povo, não apenas simbolicamente como no ritual de Levítico 16, mas em fato e
realidade, limpando a consciência do homem e eliminando sua culpabilidade
perante Deus (veja o comentário da Bíblia Vida Nova para Rm 3.25).
O crente honra a Deus não
apenas no ato de buscar o Seu perdão, mas também na disposição consequente e
continuada de perceber-se perdoado. Ainda que o inimigo use inúmeros artifícios para fazer-nos lembrar de nossa indignidade (e de fato somos
indignos!), ou mesmo de nossa história passada (inclusive maldições ou
traumas), sabemos muito bem que, da mesma forma como o bode emissário (de Lv
16) era enviado para levar o pecado do povo para o deserto, também o Senhor
levou sobre Si as nossas transgressões (Is 53.4) e lançou nossos pecados “no
fundo do mar”. Sabemos que o sacrifício de Cristo é suficiente para remover
toda a culpa, de modo radical e completo.